terça-feira, 7 de julho de 2009

A nossa geração pagã*

Vou vendo muita urgência e vontade de assumirmos uma identidade espiritual diferente da que nos é sobejamente inculcada pela cultura católica enraizada no nosso país. Vou experimentando o próprio negrume da ignorância em relação, não ao meu tipo de caminho espiritual, que quando o explico não parece complicado, mas sim à simples forma como vejo e experiencio a minha relação com a divindade. Começando na forma dual de fonte divina, seguindo para a forma como me dirijo a essas entidades, em especial à feminina. E é aqui que me entristeço e choco profundamente. Quantas vezes já explicastes, irmãos e irmãs, quem é a Deusa? “Qual Deusa?”, esta costuma ser a pergunta imediata à nossa questão primeira. “Mas quem é ela? Como se chama?” Vejo irmãs que não A conhecem porque nunca Nela ouviram falar, e vejo tanta gente a afastar-se da procura espiritual pelo equilíbrio só porque não sabem que há muito mais do que uma forma de ver os Deuses. “Não acredito na religião.” “Nunca gostei desse tipo de coisas porque nunca fui à missa”. Talvez a ferida mais feia que a nossa cultura portuguesa tradicional nos tenha infligido é exactamente este cerco de ideias que nem nos deixa conceber outra forma de religião. Religião vem do latim religo que quer dizer religar-se a. Isto pressupõe que viemos de um sítio e que nos reconectamos à origem através da fé, através da relação que estabelecemos com as forças que sustentam a nossa ideia da realidade.

Esta é uma geração de peregrinos. Somos inconformados insatisfeitos que acalentam uma busca de verdade e significado no nosso caminho espiritual sacrificando as rotinas tradicionais que nos uniam a tantas outras almas que se acham seguras e satisfeitas com a visão que lhes é permitida. Somos aquelas pessoas que assumem a direcção das suas escolhas e o destino do seu trilho. Tendemos a gostar de pic-nics e passeios à beira mar e pela floresta (sós ou acompanhados). Somos fãs de velas (seja jantares ou rituais) e incensos que podem causar dores de cabeça a pessoas à nossa volta. Podemos bem ser invariavelmente aquelas pessoas que não se calavam nas aulas (mestres do distúrbio) e os obstinados da defesa dos animais nos clubes da floresta da escola.

Quando olho à minha volta, vejo uma jovem geração que vem de uma busca pessoal (que pode durar vidas) pela justiça e de um sentido extrasensorial de equilíbrio e harmonia que nos puxa para assumirmos o papel de curandeiros universais.

É a nossa responsabilidade. Esta é a nossa geração.



Alva Möre

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Invocação de Arianrhod


Julho traz consigo os seus encantos de Verão, a Lua cheia, as celebrações egípcias do casamento de Ísis e Osíris e dos deuses romanos Vénus e Adónis. É a lua dos amores, e das paixões, celebra a união, a fertilidade e os prazeres carnais!

Nestas noites maravilhosas os Goblins da terra e as Fadas de fogo, envolvem-se, os aromas a mel, limão e canela penetram a noite, e fazem nos tremer de excitação, e as infusões de jasmim acalmam nas noites mais solitárias.

Lua de Julho traz consigo a lindíssima Arianrhod, a Senhora da Roda de Prata, ou Lua negra, chamam-lhe assim porque representa a Lua Nova, e das estrelas, céu e reencarnação. Arianrhod pode ser invocada para honrar entes queridos, renascimento, os mistérios da noite ou o amor! Existem diversas formas de fazer a invocação, mas cada um pode talhar os seus feitiços, lembrem-se de que a magia é algo intrínseca à alma do indivíduo.

Eu escrevi para honrar os mistérios da noite e o amor e entes queridos:

“O Ritual deve ser feita durante a noite, preferencialmente em grupo, três ou mais pessoas, devem ser acesas 3 velas, uma prateada, uma branca e uma negra, a prateada será em honra à Deusa, a branca em honra à lua e a negra em honra à noite.

Devem estar presentes um cálice de cristal ou prata com água, uma taça de cristal ou prata com uma pedra/cristal ou gema representando cada um dos elementos presentes, e um caldeirão de ferro ou vaso de barro no qual devem ser colocados sal, pó santo, pimenta, pétalas de rosa cor de sangue, água ardente, incenso, e fogo. Cada elemento do grupo deve ter consigo uma flor fresca colhida com as suas mãos e um amuleto, preferencialmente um pendente, para que fique junto ao peito. Uso um cristal negro de ónix num fio de prata por exemplo.

O elemento mais velho em idade deve abrir o círculo mágico, devem ser invocados os elementos, e partilhados desejos entre os elementos presentes, depois cada um deve lançar um papel com o seu desejo no caldeirão ou vaso ardente e deve ser invocada Arianrohod 3 vezes em coro;

Oh Arianrhod,

Donzela, Mãe e Anciã,
Senhora da Iniciação
Que nos destes os nossos nomes
Que nos destes as nossas armas, para que pudéssemos ter uma nova vida.
De Ti nós viemos, e para teus braços retornaremos
Deusa resplandecente, filha da grande Deusa Don
Nós convidamos-te a descer do teu palácio de estrelas e florestas selvagens
Junta-te a nós e inunda-nos com o teu poder
Abençoa-nos Arianrhod!
Ilumina os nossos caminhos
Através da luz da Lua Cheia faz com que nos nossos corações
Nasça a compreensão seguida de Amor Universal
Abençoa-nos Grande Mãe Virtuosa
Pois somos os (as) teus (tuas) filhos (as) mais amorosos (as)!

Após o término, devemos partilhar as flores com a pessoa imediatamente ao nosso lado direito, beijados os cristais apagado o fogo do pote/caldeirão, se não houver outra celebração devem ser libertados os elementos e o indivíduo mais jovem em idade deve fechar o círculo.

Depois deve-se dançar, comer e beber em honra á deusa, se possível fazer amor com o seu amado ou amada para findar o ritual.”

Espero que gostem, divirtam-se, honrem e sintam a magia das noites de Verão;

Com Amor

Morgana

quarta-feira, 1 de julho de 2009

*O dia de Fogo e a noite de Trevas*

O fogo é luz, brilho, gargalhadas e clareza. As trevas são negrura e contemplação, silêncio e desafio.

É-nos fácil aceitar e lidar com as exigências do dia: as relações com as pessoas à nossa volta, as tarefas seguras e as rotinas quase palpáveis. O nosso trabalho e “horário útil” tem lugar na jornada solar diária. É durante esse tempo que labutamos para ganhar o nosso quinhão, e é durante esse tempo que recebemos o resultado do nosso esforço.

E depois temos a noite. O tempo “fora de horas”. O tempo que podemos dedicar às nossas causas pessoais, aos nossos afazeres e necessidades de indivíduo, porque este tempo fora de horas, é Nosso.

É durante a noite que preparamos o dia seguinte. É durante a noite que combinamos aquela saída com as Nossas pessoas. É durante a noite que temos insónias, sonos profundos, sonhos inquietos ou pesadelos. É do escuro que tendemos a ter medo quando crianças, porque não vemos o que está à nossa volta, ao contrário do dia em que tudo é claro, visível e controlável. É no escuro que projectamos os nossos instintos básicos, seja o medo e inseguranças, seja a fome excitada dos sentidos. É na noite que nos conhecemos. É na noite que somos guiados pela nossa essência. É na noite e no seu silêncio que aprendemos a nossa coragem e o nosso maior obstáculo.

A noite é a hora Dela. Em vez de recusarmos a paz que o seu leito negro traz às nossas inquietações (porque este funciona como filtro quando o deixamos), insistimos em exigir dele o que exigimos do dia: a sua segurança. A noite não é nem quer ser óbvia e trabalhável, ela quer ser arrebatadora e iniciadora da nossa caminhada pessoal de conhecimento de nós próprios. Esta é a beleza e o temor que traz a noite. A contemplação do Eu. A introspecção das nossas falhas e fraquezas. O poder de as aceitar e abraçar em vez de as ignorar como as fazemos durante o dia porque estamos muito ocupados com outras coisas. Esta é a benção da noite. Este é o maior medo que desperta em nós.

Aceitemos o convite da noite e mergulhemos na nossa consciência. Abandonemos a lógica diurna e deixemos que as trevas nos guiem á sua maneira (sonhos, ideias súbitas – quando estamos no limbo entre o acordado e adormecido ou recebemos uma brisa leve ao olhar para a lua...). Ela saberá guiar-nos para onde temos que ir. E mesmo que a nossa mente nos diga que não está ninguém ao nosso lado, aquela presença que não conseguimos materializar numa sensação já é prova suficiente de que nunca estamos sós.

*Dia e Noite: Viragem e União*

Quando o dia mais longo do ano se transforma numa prova de paciência e perseverança, e a noite que lhe segue é nova e sem luar e instiga a partilha e a união, o resultado final é um ciclo de 12 horas carregado de emoção e motivos para celebrar a vida e os seus encontros mágicos.

Este Litha teve um aroma especial porque além de ter sido conseguido depois de uma longa procura, reuniu o Coven em maneiras ainda nem sonhadas.

O nosso Concílio foi recebido no local onde nascemos e foi com um inexplicável sentimento de gratidão e surpresa que descobrimos o sítio do nosso primeiro círculo à nossa espera quando pensávamos que já estava soterrado para sempre pelas rochas dos Invernos anteriores. Este Litha juntou um aniversário de Caminho, um reencontro às origens e uma comunhão de irmãs.

Para mim foi um momento de contemplação e crescimento.

Para nós foi um novo ciclo e uma nova energia partilhada.

Eis que chegamos ao dia mais longo do ano, da noite de lua nova do concilio, e ao ponto de celebração da Viragem e da União.