quarta-feira, 1 de julho de 2009

*O dia de Fogo e a noite de Trevas*

O fogo é luz, brilho, gargalhadas e clareza. As trevas são negrura e contemplação, silêncio e desafio.

É-nos fácil aceitar e lidar com as exigências do dia: as relações com as pessoas à nossa volta, as tarefas seguras e as rotinas quase palpáveis. O nosso trabalho e “horário útil” tem lugar na jornada solar diária. É durante esse tempo que labutamos para ganhar o nosso quinhão, e é durante esse tempo que recebemos o resultado do nosso esforço.

E depois temos a noite. O tempo “fora de horas”. O tempo que podemos dedicar às nossas causas pessoais, aos nossos afazeres e necessidades de indivíduo, porque este tempo fora de horas, é Nosso.

É durante a noite que preparamos o dia seguinte. É durante a noite que combinamos aquela saída com as Nossas pessoas. É durante a noite que temos insónias, sonos profundos, sonhos inquietos ou pesadelos. É do escuro que tendemos a ter medo quando crianças, porque não vemos o que está à nossa volta, ao contrário do dia em que tudo é claro, visível e controlável. É no escuro que projectamos os nossos instintos básicos, seja o medo e inseguranças, seja a fome excitada dos sentidos. É na noite que nos conhecemos. É na noite que somos guiados pela nossa essência. É na noite e no seu silêncio que aprendemos a nossa coragem e o nosso maior obstáculo.

A noite é a hora Dela. Em vez de recusarmos a paz que o seu leito negro traz às nossas inquietações (porque este funciona como filtro quando o deixamos), insistimos em exigir dele o que exigimos do dia: a sua segurança. A noite não é nem quer ser óbvia e trabalhável, ela quer ser arrebatadora e iniciadora da nossa caminhada pessoal de conhecimento de nós próprios. Esta é a beleza e o temor que traz a noite. A contemplação do Eu. A introspecção das nossas falhas e fraquezas. O poder de as aceitar e abraçar em vez de as ignorar como as fazemos durante o dia porque estamos muito ocupados com outras coisas. Esta é a benção da noite. Este é o maior medo que desperta em nós.

Aceitemos o convite da noite e mergulhemos na nossa consciência. Abandonemos a lógica diurna e deixemos que as trevas nos guiem á sua maneira (sonhos, ideias súbitas – quando estamos no limbo entre o acordado e adormecido ou recebemos uma brisa leve ao olhar para a lua...). Ela saberá guiar-nos para onde temos que ir. E mesmo que a nossa mente nos diga que não está ninguém ao nosso lado, aquela presença que não conseguimos materializar numa sensação já é prova suficiente de que nunca estamos sós.

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom este post...
Voltarei...

sempre anónimo